domingo, 28 de setembro de 2008

Candidatos à Presidência americana defendem uso do etanol e fim dos subsídios agrícolas

Sabrina Craide
Enviada especial

Nova York (Estados Unidos) - O uso do etanol como alternativa energética para os Estados Unidos foi um dos assuntos tratados pelos candidatos à Presidência norte-americana no debate realizado ontem (26) na Universidade de Mississipi (EUA). O candidato republicano, John McCain, defendeu o fim dos subsídios agrícolas para o etanol.

Questionado sobre que medidas adotaria se vencesse a disputa, ele disse que eliminaria a ajuda dada pelo governo aos produtores do país.

O democrata Barack Obama defendeu que os Estados Unidos sejam independentes na área energética, investindo em energias alternativas como solar, eólica e biodiesel. Ele disse que se for presidente, vai garantir que em dez anos o país se libere da dependência do petróleo do Oriente Médio, aumentando a geração energética local.

Apesar do momento político conturbado, o primeiro debate entre os candidatos não teve fortes embates. Os principais pontos abordados por eles, especialmente na primeira parte do programa, foram o pacote do governo americano para solucionar a crise financeira dos Estados Unidos e a necessidade de cortes de gastos nas finanças públicas.

Outro ponto foi a política externa, prevista inicialmente para ser o principal assunto do debate. McCain defendeu a permanência das tropas americanas no Iraque e disse que os Estados Unidos estão vencendo a guerra por causa de uma estratégia bem sucedida.

Obama disse que é preciso reavaliar a aproximação dos Estados Unidos com a Rússia, devido às recentes ações militares na Geórgia. "Não se pode ser uma superpotência e agir como ditador”, criticou.

Os dois candidatos condenaram a utilização de armas nucleares pelo Irã. Para McCain, elas são uma ameaça ao Estado de Israel e podem encorajar outros países. Obama disse que isso poderia desencadear uma corrida armamentista no Oriente Médio.

Candidatos à Presidência americana defendem uso do etanol e fim dos subsídios agrícolas

Sabrina Craide
Enviada especial

Nova York (Estados Unidos) - O uso do etanol como alternativa energética para os Estados Unidos foi um dos assuntos tratados pelos candidatos à Presidência norte-americana no debate realizado ontem (26) na Universidade de Mississipi (EUA). O candidato republicano, John McCain, defendeu o fim dos subsídios agrícolas para o etanol.

Questionado sobre que medidas adotaria se vencesse a disputa, ele disse que eliminaria a ajuda dada pelo governo aos produtores do país.

O democrata Barack Obama defendeu que os Estados Unidos sejam independentes na área energética, investindo em energias alternativas como solar, eólica e biodiesel. Ele disse que se for presidente, vai garantir que em dez anos o país se libere da dependência do petróleo do Oriente Médio, aumentando a geração energética local.

Apesar do momento político conturbado, o primeiro debate entre os candidatos não teve fortes embates. Os principais pontos abordados por eles, especialmente na primeira parte do programa, foram o pacote do governo americano para solucionar a crise financeira dos Estados Unidos e a necessidade de cortes de gastos nas finanças públicas.

Outro ponto foi a política externa, prevista inicialmente para ser o principal assunto do debate. McCain defendeu a permanência das tropas americanas no Iraque e disse que os Estados Unidos estão vencendo a guerra por causa de uma estratégia bem sucedida.

Obama disse que é preciso reavaliar a aproximação dos Estados Unidos com a Rússia, devido às recentes ações militares na Geórgia. "Não se pode ser uma superpotência e agir como ditador”, criticou.

Os dois candidatos condenaram a utilização de armas nucleares pelo Irã. Para McCain, elas são uma ameaça ao Estado de Israel e podem encorajar outros países. Obama disse que isso poderia desencadear uma corrida armamentista no Oriente Médio.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Crise mundial pode beneficiar Brasil , diz "Financial Times"

Duas reportagens do jornal "Financial Times" sugerem nesta quinta-feira que a crise econômica mundial pode, paradoxalmente, terminar sendo benéfica para o Brasil.

Os artigos, assinados pelo correspondente do jornal em São Paulo, afirmam que a crise pode funcionar como um controle para o crescimento econômico cujo vigor vinha criando pressões inflacionárias.

Diferentemente de outras épocas, o país está mais preparado para enfrentar as turbulências, dizem as reportagens, que no entanto alertam para os fatores - domésticos - com potencial de criar problemas no futuro.

"Desta vez é diferente. Pelo menos até agora", diz a reportagem "Brasil espera um resfriado leve, mas nada sério", publicada na versão impressa do diário financeiro britânico.

O título faz referência ao tradicional dito segundo o qual "quando os mercados financeiros americanos espirram, a América Latina pega uma gripe".

A matéria diz que, embora não tenha conseguido se descolar do resto do mundo, o Brasil, que está otimista em que seu nível de reservas - em torno de US$ 200 bilhões - seja capaz de conter uma turbulenta saída de capitais como a que se seguiu à crise asiática em 1997 e a crise da Rússia em 1998.

"Mais que isso, a crise de crédito pode ter vindo em boa hora, num momento em que a atividade econômica apresenta indicadores que apontam para uma curva de superaquecimento. Assim, a crise, potencialmente, pode ajudar o país a desaquecer sua economia sem derrubar o crescimento abaixo do potencial do país", escreve o FT.

Economistas ouvidos pelo jornal crêem que o aumento do PIB passe de 5,4% este ano para 3,5% no ano que vem - bem melhor que o 1% estimado para o resto do mundo, mas capaz de trazer a inflação, que já superou os 6% ao ano, para o centro da meta de 4,5%.

Com isso, o Banco Central (BC) também poderia rever a quantidade de vezes em que deve aplicar um aumento de juros, diz o jornal.

Mas o FT também faz um alerta para o futuro, afirmando que "preocupações antigas permanecem e podem interferir no (curso da economia do) Brasil". A principal delas é o gasto do governo, capaz de gerar demanda e assim criar novas pressões inflacionárias.

Com o governo usando os gastos como motor do crescimento, "o papel da política fiscal, que continua sendo altamente expansionista, tem sido ignorado", diz o diário britânico, na reportagem "Confiança do Brasil acumula problemas para o futuro", publicada em sua versão online.

Um economista citado na matéria afirma que, mesmo com o BC aplicando arrochos monetários para frear o aumento dos preços, "no final, as expectativas de inflação a longo prazo são determinadas pela política fiscal, não pela política monetária".
UOL

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Lula estranha reativação da Quarta Frota da Marinha Americana

Sabrina Craide
Enviada Especial

Nova York (Estados Unidos) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (22), em Nova York, que estranhou a reativação da Quarta Frota da Marinha Americana no Oceano Atlântico, logo após a descoberta do petróleo na camada pré-sal.

“Estranhamos que, depois que encontramos o petróleo, a Quarta Frota vá tomar conta do Atlântico exatamente na área que tem petróleo. Penso que não tem problema, a nossa preocupação agora é tentar explorar esse petróleo e fazer com que ele possa ajudar o povo brasileiro a mudar de vida”, disse. Lula afirmou que já conversou com o presidente George Bush sobre o assunto.

Ao comentar a crise financeira nos Estados Unidos, que atinge toda a economia mundial, Lula disse que é preciso haver medidas para dificultar a especulação financeira.

“Ninguém pode fazer de dinheiro de pensionistas um cassino. Quer ganhar dinheiro, ganhe investindo em coisas que gerem mais empregos, mais renda. Não especulando, e depois querem dividir o prejuízo com os mais pobres. Não podemos aceitar isso. Quando ganham, ganham sozinhos. Quando perdem, querem socializar”, criticou Lula.

Ele disse que, apesar de não haver sinais de que a crise chegue no Brasil, o governo está preocupado. “Se houver recessão nos Estados Unidos, isso vai repercutir em todo o mundo.”

sábado, 20 de setembro de 2008

Governo americano deve comprar até US$ 700 bi em dívidas de má qualidade

Washington, 20 set (EFE) - O Governo dos Estados Unidos já enviou ao Congresso a minuta final de sua proposta para que o Tesouro possa comprar até US$ 700 bilhões de ativos hipotecários em mãos dos bancos, naquela que pode vir a ser a maior intervenção da história nos mercados financeiros.

O texto, divulgado hoje pela edição eletrônica do jornal "The New York Times", prevê ainda o aumento do endividamento do país para US$ 11,3 trilhões.

Nas últimas horas, o Governo intensificou a negociação com os líderes do Congresso, de maioria democrata, para lançar um plano de resgate que permita repassar aos cofres públicos as dívidas hipotecárias milionárias que os bancos nos EUA possuem.

A Administração de Bush precisa que o Congresso tramite por via legislativa esta autorização, que deixará as mãos livres ao Tesouro para adquirir os ativos hipotecários afetados dos bancos americanos, não dos estrangeiros.

A proposta do Governo pode causar fortes críticas nos bancos internacional, que, nos últimos anos, recorreu a Wall Street em massa para adquirir títulos hipotecários, o que contribuiu para criar o "boom" do setor imobiliário americano.

Segundo a proposta -que se destaca por sua simplicidade, apenas três páginas -, o Tesouro terá plena capacidade para comprar ativos, revendendo-os no mercado, emitir dívida para financiar as operações e contratar os gerentes que considerarem oportunos, sem mais obrigação além de dar explicações periódicas ao Congresso.

A imprensa especializada destacou hoje o significado da proposta, não só porque supõe uma ação fortemente intervencionista em um Governo até agora defensor do livre mercado, mas também pelo volumoso custo que terá para os contribuintes.

De fato, os US$ 700 bilhões que o Tesouro desembolsará se igualam ao custo direto da guerra do Iraque, e ao orçamento anual do Pentágono, cita o "The New York Times".

"É um grande preço para um grande problema. O risco de não fazer nada é muito maior que o risco do pacote", justificou esta manhã o presidente americano, George W. Bush.

As negociações sobre esta minuta podem ser complicadas, embora a plena disposição da maioria democrata em apoiar o resgate possa fazer com que terminem em breve, possivelmente antes de segunda-feira, de modo que o Congresso possa votá-la na próxima semana.

No entanto, a minuta pode ser alterada, já que os congressistas democratas desejariam incluir algumas disposições que levem em conta a necessidade de ajuda aos centenas de milhares de proprietários que são favoráveis às execuções de suas casas.

O Governo americano descartou a criação de uma nova agência governamental que fique encarregada da compra dos ativos prejudicados dos bancos, uma medida que já foi adotada nos anos 1980, com a crise das caixas econômicas, mas que agora demoraria a intervenção.

Pelo contrário, o Tesouro optará pela contratação de profissionais externos do setor da gestão de ativos para desenvolver esta iniciativa.

Bush reconheceu hoje que receberá duras críticas pela medida intervencionista do Governo, que se destacou nos dois mandatos por sua defesa do livre mercado.

Mas, hoje, Bush explicou: "Mudei de opinião quando os especialistas me informaram da gravidade significativa deste problema. Agimos para evitar o caos total".

"Tomei a decisão com os especialistas e, a longo prazo, estaremos bem", afirmou.

A medida, no entanto, gerou críticas, algumas delas procedentes inclusive das próprias fileiras republicanas.

"O livre mercado morreu nos EUA", disse em um duro comunicado o senador republicano Jim Bunning, que assegurou que as medidas de intervenção esboçadas pelo Tesouro significam "eliminar o livre mercado e instituir o socialismo" nesse país.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A receita Bush para balcanizar a Bolívia (Argemiro Ferreira)

Apesar dos equívocos de sua linha editorial nos últimos anos, a "Folha de S. Paulo" ainda é capaz de surpreender e fazer diferença - ao contrário do resto da grande mídia - organizações Globo, "Veja", "Estadão" etc. Um crítico gringo-brasileiro dessa mídia, Colin Brayton, chamou atenção em seu blog irreverente (leia aqui: Sousaphone Tupiwire) para um artigo profético publicado há 15 meses pela "Folha".

Sob o título "A Balcanização da Bolívia", era assinado por Luiz Antonio Moniz Bandeira, jornalista que se tornou cientista político sem perder o vício de escrever para jornais. Desde que lançou o livro "Presença dos EUA no Brasil", no início da década de 1970, tem sido um dos melhores analistas das relações entre os EUA e a América Latina. E em julho do ano passado previu a missão oculta de Philip Goldberg: dividir a Bolívia.

Goldberg é o embaixador que o presidente boliviano Evo Morales expulsou do país devido à ingerência nos assuntos internos da Bolívia em meio à atual crise. A 15 de julho de 2007, Moniz Bandeira tinha ido direto ao ponto, ao alertar: "Esse diplomata tem experiência em conflitos étnicos e tendências separatistas, que irromperam no Leste europeu após a desintegração da Iugoslávia."
A missão e as credenciais

Ele lembrou que de 1994 a 1996, Goldberg trabalhara na questão da Bósnia, no Departamento de Estado; fora assistente especial do embaixador Richard Holbrooke, o artífice da desintegração da Iugoslávia; e servira como chefe da Missão dos EUA em Pristina, Kosovo (2004-06), onde orientou a separação dos Estados da Sérvia e Montenegro, após haver sido ministro conselheiro na Embaixada dos EUA em Santiago do Chile (2001-04).

É bem conhecida a atração particular que a riqueza energética alheia exerce sobre a dupla petrolífera Bush-Cheney. E Moniz alertou então para os recursos naturais de Santa Cruz de la Sierra, "onde estão 2,8 trilhões de pés cúbicos de gás dos 26,7 trilhões de reservas provadas da Bolívia. Se somadas às prováveis, o volume sobe a 48,7 trilhões de pés cúbicos".

A suspeita óbvia em La Paz, como também observara Moniz na época, era de que Golberg tinha sido escolhido a dedo para "conduzir o processo de separação de Santa Cruz de la Sierra, caso ela ocorra após a aprovação da nova Constituição e em meio à exacerbação das tensões étnicas, sociais e políticas, aguçadas pelo choque de interesses econômicos das distintas regiões da Bolívia".

Ante o quadro atual naquele país, só resta dizer que Goldberg cumpriu a missão. A presença fortaleceu a rebelião separatista, ratificando o poder da ação quase sempre desagregadora da diplomacia americana quando a riqueza energética de um país está em jogo. Depois da II Guerra, isso ficou claro a partir do caso conspícuo do golpe da CIA no Irã em 1953, para derrubar Mohamed Mossadegh e instalar Reza Pahlevi no poder.
Dividir para tomar a riqueza

No Iraque a primeira aposta dos EUA após a saída das tropas iraquianas do Kuwait foi no separatismo, de novo através da CIA, que armou e financiou os curdos, depois abandonados à própria sorte por George Bush pai. A idéia do separatismo não vingou em 2003 porque países árabes aliados dos EUA, como a Arábia Saudita, condicionaram o apoio a garantias de
que a integridade territorial seria mantida.

Como a prioridade maior é para o controle dos recursos energéticos, o governo Bush não vê incoerência em ficar contra a separação da rebelde Ossétia do Sul, com população de maioria russa, que se declarou independente da Geórgia. Nesse caso só consegue pensar no oleoduto que atravessa a Geórgia, levando o petróleo do Azerbaijão, capaz de reduzir a dependência do Ocidente do produto do Oriente Médio.

Mas do lado de cá do mundo, na nossa América - em oposição à deles, ao norte - a pergunta é se os EUA estão obstinados em retalhar nossos países. Na sua edição do outono de 1999, a importante revista "Foreign Policy" publicou um ensaio sob o título "Too Many Flags?" (Bandeiras demais?), assinado por um pesquisador da Universidade de Harvard, Juan Enriquez-Cabot, reclamando exatamente isso.

Na África, Ásia e África, argumentou Enriquez-Cabot, as nações se dividem em ritmo sem precedentes, mas o hemisfério ocidental tem ficado imune aos impulsos secessionistas. O ensaio alegou que as fronteiras das Américas não são tão estáveis como parecem. E que países pequenos como Luxemburgo, Cingapura e Suíça estão entre os que mais prosperaram depois da II Guerra Mundial.
O porrete sem a fala macia

Entre os exemplos dados por ele estavam as nações indígenas - os maias teriam parte do México e Guatemala; os mapuches, do Chile. Não basta para justificar a paranóia de quem teme complôs contra a Amazônia? Ianomâmis independentes com partes do Brasil e Venezuela, conforme parecem sonhar ONGs da Europa e EUA? Enriquez diz que em países em desenvolvimento os mais pobres dos pobres - maias, mapuches - se perguntam que benefícios reais têm com a atual identidade nacional.

Relacionando o artigo do acadêmico de Harvard a certos dados citados na época pelo "Economist", de Londres, Andrés Oppenheimer, colunista do "Miami Herald" dedicado a questões hemisféricas, apaixonou-se pela idéia. E concluiu que o mapa latino-americano será diferente em 2050. "O mundo tinha 62 países em 1914. Em 1946 o total já era 74. Hoje já pulou para 193", argumentou.

Enriquez vai mais longe. Vê países como corporações no império globalizante do neoliberalismo: "Hoje os governos que querem manter as fronteiras intactas têm de tratar os cidadãos como acionistas, que podem vender as ações, forçar mudanças na administração ou reduzir o tamanho do estado". Quanto mais globalizado o mundo, menos traumática será para os nacionalistas a divisão de seus estados, diz. "A globalização reduz o mundo às suas partes componentes, mesmo quando junta essas partes".

Para ele, os governos do hemisfério só sobreviverão com as atuais fronteiras se derem mais autonomia a grupos regionais sem insistir nas "velhas doutrinas autoritárias obcecadas por soberania". Notaram o horror à soberania alheia? Ted Roosevelt, ao separar o Panamá da Colômbia e roubar o canal, usava porrete ("big stick") e fala macia ("speak softly"). Bush, com a IV Frota no Atlântico Sul, dispensa a conversa.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Golpe é receita de McCain para a AL (Argemiro Ferreira)

Se alguém ainda duvidava de que um governo republicano de John McCain será apenas "more of the same" - ou seja, "mais do mesmo", um terceiro mandato de George Bush - devemos a "O Globo" o mérito de, sem querer e sem sequer perceber, ter confirmado a suspeita. O jornal entrevistou Otto J. Reich, um lobista daquelas dezenas da tropa que tomou de assalto a campanha de McCain.

Profundamente lamentável, no entanto, é o jornal dos irmãos Marinho ter optado por omitir os antecedentes do entrevistado - o que colocaria a matéria no contexto e a tornaria relevante. Ao integrar-se ao contingente lobista da campanha, Otto Reich levou sua larga experiência a serviço da Ron Bacardi, indústrias de armas e fábricas de cigarro, mais o trabalho sórdido de disseminar mentiras em veículos da mídia.

Como cultor dessa última prática subterrânea e golpista, ele foi pilhado pela investigação do escândalo Irã-Contras e acusado de "propaganda clandestina" contra países da América Latina. Textos fabricados e "plantados" por ele na mídia dos EUA eram depois usados pelo governo Reagan no Congresso como "provas" da necessidade de operações ilegais como a guerra secreta contra a Nicarágua.
Do complô golpista ao terrorismo

Tendo agido inicialmente na Usaid, no começo do primeiro mandato de Reagan, Reich deslocou-se em 1983 para o Escritório de Diplomacia Pública (OPD), a cargo de operações de mídia relacionadas à América Latina e Caribe. Apesar de subordinado ao Departamento de Estado, o OPD prestava-se a patrocinar as ações ilegais dele - "propaganda encoberta" dentro dos EUA, a serviço da CIA e do coronel Oliver North, então no Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.

Tanto North, figura central do escândalo Irã-Contras, como o secretário adjunto para a América Latina no Departamento de Estado, Elliott Abrams, seriam depois condenados na Justiça pelas ilegalidades. Reich, apesar de atolado na lambança, ainda passou três anos como embaixador na Venezuela (1986-89), onde agiam os terroristas Luis Posada Carriles e Orlando Bosch, também da máfia cubana de Miami.

O terrorismo dos dois, ainda hoje sob a proteção do governo Bush, incluiu a trama da Operação Condor para assassinar em Washington o ex-embaixador chileno Orlando Letelier e também o planejamento e execução do atentado que explodiu um avião da companhia Cubana de Aviación e matou 73 passageiros, civis inocentes, inclusive a equipe cubana campeã de esgrima nos Jogos Pan-Americanos.
Posada e Bosch, os exemplos

Os dois atentados foram em 1976, mas Bosch e Posada, ambos treinados pela CIA, dedicavam-se ao terrorismo desde a primeira metade da década de 1960. Fizeram atentados nos EUA e em outros países. Bosch chegou a ser preso na Venezuela, acusado pela explosão do avião cubano, mas fugiu dali para Miami em 1987, com a assistência de Otto Reich, então embaixador dos EUA em Caracas.

A mais recente ação terrorista conhecida de Posada - que agia em vários países do Caribe e América Central - foi no Panamá, em 2000. Acabou capturado e preso ali quando preparava a explosão de uma bomba para matar o líder cubano Fidel Castro, então em visita ao país. Ele e Bosch continuam a viver em Miami - no luxo e na mais completa impunidade. Bosch até recebeu uma vez a chave da cidade das mãos do prefeito.

No caso de Posada, o detalhe insólito de sua história é ter sido infiltrado pela CIA no mais alto cargo da espionagem venezuelana - "chefe de operações de inteligência". Só depois de entrar em choque com algumas autoridades do país, que suspeitavam estar ele fazendo serão como traficante de cocaína, é que foi defenestrado (em 1974) e iniciou a preparação do atentado do avião cubano.

A iniciativa no sentido de enfiar Reich no Departamento de Estado costuma ser atribuída ao vice Dick Cheney, sem respaldo do secretário Colin Powell - a exemplo da de John Bolton. E como o governo percebeu não ter votos suficientes no Senado, devido ao papel de Reich no escândalo Irã-Contras, resolveu nomeá-lo só em caráter precário, em janeiro de 2002, aproveitando o recesso do Congresso.
O fiasco e o repúdio, até de Bush

Reich assumiu e somou-se imediatamente ao complô golpista da Venezuela para derrubar o presidente Hugo Chávez - eleito, reeleito e confirmado em vários plebiscitos. Chegou até a fazer reuniões na Casa Branca com os golpistas, entre eles o empresário Pedro Carmona, que se declarou "presidente" a 11 de abril, fechou o Congresso, cassou os juízes da Suprema Corte e teve de fugir às carreiras dois dias depois.

Ante o fiasco, Reich saiu de cena. Amigos dele na Flórida, como o colunista Andrés Oppenheimer, do "Miami Herald", mobilizaram o "lobby" cubano para forçar sua volta ao cargo a pretexto de ter sido "injustiçado". Mas Bush o deixou circular um tempo na Casa Branca e deu-lhe um "bico" no conselho da infame Escola das Américas, rebatizada mas ainda formando ditadores e torturadores para a América Latina.

Foi o fim da linha para Reich - pelo menos até o desinformado John McCain, na certa depois de ouvir seus próprios lobistas e a máfia cubana de Miami, resolver recebê-lo na campanha. Isso significa que em matéria de América Latina o terceiro mandato de Bush não será apenas "mais do mesmo". Pode até ser pior do que os últimos oito anos. Basta ler as declarações de Reich a "O Globo".
NOTA DA REDAÇÃO - A coluna de ontem está sendo republicada hoje devido à supressão de três parágrafos, o que deixou o texto inconcluso.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Muro entre EUA e México causará dano ecológico, diz especialista

O muro na fronteira entre Arizona, nos Estados Unidos, e Sonora, no México, causará danos ao meio ambiente ao ameaçar o corredor ecológico da região, assegurou hoje à Agência Efe um especialista.

"Há várias coisas que devemos considerar, mas acho que atualmente já existe um impacto ecológico desde o momento que começou a construção", explicou Sergio Ávila, biólogo e educador ambiental.

O biólogo, da organização Sky Island Alliance, com sede em Tucson, informou que a região fronteiriça entre Arizona e Novo México é um corredor importante de biodiversidade que inclui zonas montanhosas e desertos que abrigam uma ampla variedade de animais e plantas.

"Os animais não conhecem fronteiras, ao bloquear estes corredores biológicos corremos o risco de afetar o ciclo de reprodução e os processos de distribuição natural e controle de população de presas", comentou.

Atualmente estão em andamento vários projetos para ampliar o muro fronteiriço ao longo dos limites entre EUA e México, como parte de uma resolução aprovada pelo Congresso federal e assinada em 2006 pelo presidente americano, George W. Bush.

EFE