Traços do governo Clinton começam a marcar gabinete de Obama
da Efe, em Washington
As últimas nomeações do presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, demonstram certa pretensão em formar um gabinete experiente, em que nomes do governo de Bill Clinton (1993-2001) voltarão a estar presentes.
Jasmina Meyer/AP/29.out.2008
Obama repete nomes de ex-colaboradores da gestão Bill Clinton na nova equipe
Obama repete nomes de ex-colaboradores da gestão Bill Clinton na nova equipe
A escolha de Eric Holder, ex-número dois no Departamento de Justiça de Clinton, a quem segundo fontes democratas Obama ofereceu o departamento, vem para confirmar o destaque que nomes desse gabinete terão no governo.
Segundo a revista "Politico", 31 dos primeiros 47 postos da equipe de transição ou cargos do gabinete foram parar nas mãos de antigos colaboradores de Bill Clinton. Como por exemplo, Gregory Craig, antes número três no Departamento de Estado com Bill Clinton, e que, a partir de janeiro, será assessor jurídico da Casa Branca.
É preciso acrescentar também o nome de Rahm Emanuel, alto assessor durante a Presidência Clinton e futuro chefe de gabinete com Obama e o de Ron Klain, chefe de gabinete com o vice-presidente Al Gore, que desempenhará a mesma função ao lado do vice de Obama, Joe Biden.
Larry Summers, secretário do Tesouro de Bill Clinton, é um dos nomes que mais aparecem com força para o Departamento do Tesouro. Fora isso, existe a possibilidade de que a senadora por Nova York, Hillary Clinton, fique à frente da diplomacia americana, no Departamento de Estado.
Obama reconheceu, em entrevista para TV divulgada no domingo, que se reuniu com a senadora, embora tenha evitado dizer se incluirá ou não Hillary em seu governo. O fato do futuro presidente ter se rodeado de rostos conhecidos --hoje a rede de televisão americana CNN anunciou que o ex-líder da maioria democrata no Senado, Tom Daschle, será o secretário de Saúde Pública--, coloca dúvidas se Obama materializará realmente a mudança prometida.
Quando Emanuel foi escolhido, por exemplo, alguns dos aliados de Obama na esquerda expressaram preocupação. Emanuel é considerado um centrista e defensor da rejeição ao Nafta (acordo de livre-comércio da América do Norte), ao que se opôs a ala mais populista do Partido Democrata.
Reações similares poderiam ser geradas pela designação de Hillary Clinton, a quem os ativistas contra guerras não querem ver por seu apoio à invasão do Iraque. Enquanto isso, a equipe de Obama pede calma ao insistir que será "uma mudança com experiência" e ressaltam que o espírito pragmático guia um processo de seleções que procura "gente competente capaz de fazer seu trabalho".
Larry Sabato, prestigioso analista político da Universidade da Virgínia, assinala hoje, em declarações ao jornal diário "Financial Times", que "as nomeações até o momento deixam clara uma coisa: não há recompensa para os aliados nem castigo para os inimigos". "Tudo se baseia em um critério: Quem pode me ajudar melhor a conseguir meus objetivos?", disse Sabato.
Obama deixou claro que não punirá seus adversários, capitaneados por sua rival nas primárias democratas Hillary Clinton, e antecipou inclusive que deve haver algum republicano em seu futuro governo.
Aparentemente, o democrata quer seguir os passos do ex-presidente dos EUA, Abraham Lincoln (1861-1865), que incluiu adversários políticos em sua administração. "Acho que ele era um homem muito sábio", disse Obama, no domingo, em referência a Lincoln durante uma entrevista à rede de televisão americana CBS.