domingo, 22 de julho de 2012


O golpe em Assunção e a tríplice fronteira

Publicado por: admin

Por Mauro Santayana – A moderação dos Estados Unidos, que dizem estranhar a rapidez do processo de impeachment do Presidente Lugo, não deve alimentar o otimismo continental. Em plena campanha eleitoral, a equipe de Obama (mesmo a Sra. Clinton) caminha com cautela, e não lhe convém tomar atitudes drásticas nestas semanas. Esta razão os leva a deixar o assunto, neste momento, nas mãos da OEA. Na verdade, se as autoridades de Washington não ordenaram a operação relâmpago contra Lugo, não há dúvida de que o parlamento paraguaio vem sendo, e há muito, movido pelo controle remoto do Norte. E é quase certo que, ao agir como agiram, os inimigos de Lugo contavam com o aval norte-americano. E ainda contam. Conforme o Wikileaks revelou, a embaixada norte-americana informava a Washington, em março de 2009, que a direita preparava um “golpe democrático” contra Lugo, mediante o parlamento. Infelizmente não sabemos o que a embaixada dos Estados Unidos em Assunção comunicou ao seu governo depois e durante toda a maturação do golpe: Assange e Manning estão fora de ação.
Não é segredo que os falcões ianques sonham com o controle da Tríplice Fronteira. Não há, no sul do Hemisfério, ponto mais estratégico do que o que une o Brasil ao Paraguai e à Argentina. É o ponto central da região mais populosa e mais industrializada da América do Sul, a pouco mais de duas horas de vôo de Buenos Aires, de São Paulo e de Brasília. Isso sem falar nas cataratas do Iguaçu, no Aqüífero Guarani e na Usina de Itaipu. Por isso mesmo, qualquer coisa que ocorra em Assunção e em Buenos Aires nos interessa, e de muito perto.
Não procede a afirmação de Julio Sanguinetti, o ex-presidente uruguaio, de que estamos intervindo em assuntos internos do Paraguai. É provável que o ex-presidente – que teve um desempenho neoliberal durante seu mandato – esteja, além de ao Brasil e à Argentina, dirigindo suas críticas também a José Mujica, lutador contra a ditadura militar, que o manteve durante 14 anos prisioneiro, e que vem exercendo um governo exemplar de esquerda no Uruguai.
Não houve intervenção nos assuntos internos do Paraguai, mas a reação normal de dois organismos internacionais que se regem por tratados de defesa do estado de direito no continente, o Mercosul e a Unasul – isso sem se falar na OEA, cujo presidente condenou, ad referendum da assembléia, o golpe parlamentar de Assunção. É da norma das relações internacionais a manifestação de desagrado contra decisões de outros países, mediante medidas diplomáticas. Essas medidas podem evoluir, conforme a situação, até a ruptura de relações, sem que haja intervenção nos assuntos internos, nem violação aos princípios da autodeterminação dos povos.
A prudência – mesmo quando os atos internos não ameacem os países vizinhos – manda não reconhecer, de afogadilho, um governo que surge ex-abrupto, em manobra parlamentar de poucas horas. E se trata de sadia providência expressar, de imediato, o desconforto pelo processo de deposição, sem que tenha havido investigação minuciosa dos fatos alegados, e amplo direito de defesa do presidente.
Registre-se o açodamento nada cristão do núncio apostólico em hipotecar solidariedade ao sucessor de Lugo, a ponto de celebrar missa de regozijo no dia de sua posse. O Vaticano, ao ser o primeiro a reconhecer o novo governo, não agiu como Estado, mas, sim, como sede de uma seita religiosa como outra qualquer.
O bispo é um pecador, é verdade, mas menos pecador do que muitos outros prelados da Igreja. Ele, ao gerar filhos, agiu como um homem comum. Outros foram muito mais adiante nos pecados da carne – sem falar em outros deslizes, da mesma gravidade – e têm sido “compreendidos” e protegidos pela alta hierarquia da Igreja. O maior pecado de Lugo é o de defender os pobres, de retornar aos postulados da Teologia da Libertação.
Lugo parece decidido a recuperar o seu mandato – que duraria, constitucionalmente, até agosto do próximo ano. Não parece que isso seja fácil, embora não seja improvável. Na realidade, Lugo não conta com a maior parcela da classe média uruguaia, e possivelmente enfrente a hostilidade das forças militares. Os chamados poderes de fato – a começar pela Igreja Católica, que tem um estatuto de privilégios no Paraguai – não assimilaram o bispo e as suas idéias. Em política, no entanto, não convém subestimar os imprevistos.
Os fazendeiros brasileiros que se aproveitaram dos preços relativamente baixos das terras paraguaias e lá se fixaram, não podem colocar os seus interesses econômicos acima dos interesses permanentes da nação. É natural que aspirem a boas relações entre os dois países e que, até mesmo, peçam a Dilma que reconheça o governo. Mas o governo brasileiro não parece disposto a curvar-se diante dessa demanda corporativa dos “brasiguaios”.
No Paraguai se repete uma endemia política continental, sob o regime presidencialista. O povo vota em quem se dispõe a lutar contra as desigualdades e em assegurar a todos a educação, a saúde e a segurança, mediante a força do Estado. Os parlamentos são eleitos por feudos eleitorais dominados por oligarcas, que pretendem, isso sim, manter seus privilégios de fortuna, de classe, de relações familiares. Nós sofremos isso com a rebelião parlamentar, empresarial e militar (com apoio estrangeiro) contra Getúlio, em 1954, que o levou ao suicídio; contra Juscelino, mesmo antes de sua posse, e, em duas ocasiões, durante seu mandato. Todas foram debeladas. A conspiração se repetiu com Jânio, e com Jango – deposto pela aliança golpista civil e militar, patrocinada por Washington, em 1964.
A decisão dos paises do Mercosul de suspender o Paraguai de sua filiação ao Mercosul, e a da Unasul de só reconhecer o governo paraguaio que nasça das novas eleições marcadas para abril, não ferem a soberania do Paraguai, mas expressam um direito de evitar que as duas alianças continentais sejam cúmplices de um golpe contra o estado democrático de direito no país vizinho.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Pobreza recua no Brasil e cresce nos Estados Unidos


Brasil Econômico

Pobreza recua no Brasil e cresce nos Estados Unidos
Segundo OIT, número de brasileiros abaixo da linha de pobreza caiu para 8,5% da população; nos EUA, a proporção saltou para 15,1%, de acordo com o Congresso. (Págs. 1, 7 e 37)

terça-feira, 3 de julho de 2012


Para FMI, maior risco para economia dos 


EUA é a sua política


Christine Lagarde | Foto: Reuters
Diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, diz
que entidade ainda tem "otimismo" com EUA
Qualquer analista político dos Estados Unidos sabe dizer, apelando para a célebre frase, onde está a prioridade número um na cabeça dos americanos: "a economia, estúpido".
Mas nesta terça-feira o FMI (Fundo Monetário Internacional) sugeriu que o buraco da economia do país se situa ainda mais embaixo, nas negociações que terão de ser realizadas no Congresso para evitar o chamado "abismo fiscal".
O termo se refere à entrada automática em vigor de uma série de cortes de gastos e o fim de isenções fiscais que se aplicariam já a partir de janeiro, se o legislativo não chegar a um plano para aplicá-las gradativamente, transformando o precipício em uma descida em plano menos inclinado.
As divisões partidárias dentro do Congresso reacendem as lembranças das difíceis negociações que ocorreram em julho do ano passado, quando divergências em torno da elevação do teto da dívida pública americana quase levaram o país a um calote.
Um acordo acabou sendo fechado na última hora, mas o impasse levou a agência de avaliação de risco Standard & Poor’s a rebaixar a nota dos Estados Unidos, provocando tensão nos mercados mundiais.

Ameaça

O Fundo já rebaixou de 2,4% para 2,3% a sua previsão de crescimento para a economia dos EUA no ano que vem – mudança leve, mas feita no intervalo de menos de três meses.
A diretora-geral da organização, Christine Lagarde, alertou que se nada for feito para aplainar o abismo fiscal, o crescimento americano no ano que vem será ainda menor, "bem abaixo de 1%".
"A ameaça, só a ameaça em se demorar a elevar o teto da divida e afastar o abismo fiscal podem enfraquecer o crescimento já no fim deste ano. E se se materializar, na eventualidade de um acordo não ser alcançado, os efeitos para a economia seriam severos, com contágios negativos para o resto do mundo", disse Lagarde em entrevista coletiva em Washington.
A proposta de orçamento feita em fevereiro pelo presidente Barack Obama prevê uma redução do déficit público equivalente a 3 pontos percentuais do PIB, passando de 8,5% para 5,5% do PIB.
Mas para os 12 economistas do Fundo que elaboraram o relatório anual dos EUA, mesmo esta pequena redução pode ser rápida demais. Para eles, os EUA deveriam mirar em uma consolidação fiscal mais "sustentável" e no "médio prazo".
"O ritmo de ajuste recomendado seria consistente com um deficit de cerca de 6,5% do PIB para 2013", avaliou o relatório. Para Lagarde, "a consolidação fiscal é necessária, mas ela precisa ser sensata, e certamente não ser excessiva."

Contágio

Indústria nos EUA | Foto: PA
Em relatório, FMI rebaixou previsão de crescimento da economia americana para o próximo ano
Por ora, Lagarde disse que o FMI continua "no terreno do otimismo" em relação à economia americana. Segundo as novas estimativas, a maior economia do planeta crescerá 2% em 2012, um pouco abaixo da previsão de 2,1% divulgada em abril. Lagarde qualificou este crescimento de "morno".
O maior risco neste momento é a crise na zona do euro, que pode afetar os EUA tanto pela via comercial quanto por uma desvalorização dos ativos financeiros e queda na confiança.
O efeito comercial seria na verdade um duplo efeito: reduziria a queda na demanda por exportações americanas na Europa (que responde por 15% das exportações dos EUA) e levaria à apreciação do dólar, o que encareceria os produtos americanos.
Mas a chefe do FMI ponderou que a crise na zona do euro está sendo tratada pelas medidas de maior integração bancária, fiscal e política que têm recebido o aval das instâncias políticas da União Europeia.
Além disso, o Fundo considera que a política monetária americana está "apropriadamente" frouxa e com "espaço para maior afrouxamento se o panorada se deteriorar".
Países emergentes, como o Brasil, se queixam de que o afrouxamento da política americana tem gerado capital especulativo para as suas economias em melhor forma.
Sobre esse tema, Lagarde disse que, embora hoje em dia o Fundo considere "legítimas" algumas medidas de controle de capital, nunca chegou a observar uma relação entre afrouxamento monetário e aumento de capital especulativo para os países emergentes.ique

Leia mais sobre esse assunto

Tópicos relacionados