sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Republicanos elegem negro para presidência do partido pela 1ª vez

WASHINGTON, 30 Jan 2009 (AFP) - Pela primeira vez, os republicanos elegeram um negro, Michael Steele, para a direção de seu partido, nesta sexta-feira, uma semana depois da posse do primeiro presidente negro da História dos EUA, Barack Obama.

Steele foi eleito presidente do Republican National Committee, o órgão diretor do partido de oposição nos Estados Unidos.

"É com grande humildade que aceito (o cargo) e agradeço a todos vocês pela oportunidade que me é dada de servir como o presidente nacional" do partido, declarou Steele, que foi vice-governador do estado de Maryland.

"Para os americanos que acreditam no futuro deste país e para aqueles que não pensam como nós, é hora de algo completamente diferente. E vamos lhes dar isso", declarou Steele, após a votação.

"Essa é nossa oportunidade. Não posso fazer isso sozinho", acrescentou.

Após um dia de muita agitação política, Steele, de 50 anos, derrotou, entre outros, o presidente do partido na Carolina do Sul, Katon Dawson.

Steele venceu por 91 votos a 77. São necessários pelo menos 85 para ganhar.

Guantánamo, uma indecência de 110 anos (Pedro do Coutto)

Por enquanto, só o que o governo do presidente Barack Obama ousou dizer sobre a baía de Guantánamo, extensa área do território cubano sob controle indecente dos EUA há 110 anos, foi a referência à mudança do status que lhe dera o antecessor George W. Bush, ao transformá-la em prisão infame e centro de tortura, chamada há três anos pela Anistia Internacional de "Gulag do nosso tempo".

Em cumprimento a promessas de campanha, Obama decidiu pela proibição da tortura e pelo fechamento da prisão - como também das demais prisões secretas da CIA (Agência Central de Espionagem) espalhadas pelo mundo, nas quais se terceirizava a prática da tortura. Mas Guantánamo é ainda uma indecência jurídica e uma relíquia colonial do império sonhado pelos EUA no século 19.

Ocupada pela força das armas, Guantánamo já então era intolerável. Ainda o é hoje. Os próprios americanos, por uma questão de dignidade e bom senso, há muito deviam tê-la devolvido como excrescência ofensiva não só ao povo cubano, cuja liberdade os EUA alegam defender, mas a toda a América Latina - já que impingida a partir de lei americana doméstica e abusiva, que tratava de destinação de verbas do Exército.
De olho em Cuba, desde 1824

A ocupação de Guantánamo data de 1898. Resultou de pacote intervencionista em meio à luta dos cubanos pela independência da Espanha, então potência colonial. Concebida em 1823, a Doutrina Monroe ("a América para os Americanos") pareceu a alguns oferecer uma face "virtuosa" dos EUA, por advertir nações de fora do hemisfério de que não deviam se imiscuir nas questões do continente.

Os latino-americanos logo perceberiam que se buscava apenas atender às próprias ambições dos EUA, cuja atenção voltava-se para Cuba e Porto Rico já em 1824. O então secretário de Estado John Quincy Adams, depois presidente (1825-1829), avisou Simón Bolívar de que a doutrina não autorizava "os fracos a serem insolentes com os fortes", motivo pelo qual devia ficar longe de Cuba e Porto Rico.

Ao preparar a I Conferência Pan-Americana, boicotada por Washington, Bolívar já não tinha ilusões: "Os EUA parecem destinados pela Providência a espalhar a miséria em nome da liberdade", disse em 1829. De fato, a truculência britânica nas Malvinas, Honduras, Guatemala fora ignorada, enquanto os EUA tomavam o Texas e a Califórnia do México, depois invadido, e separavam o Panamá da Colômbia, além de outras intervenções.

Cobiçada desde 1824, quase comprada por US$100 milhões em 1848, Cuba entrava ainda no contexto dos 10 anos de oposição dos EUA à federação centro-americana. Ante a iminente vitória de Cuba sobre a Espanha (e a esperada conquista da independência), as cadeias de jornais Hearst e Pulitzer inventaram a "esplêndida guerrinha" de Ted Roosevelt e seus Rough Riders, retratados como heróis.
A fala macia e o porrete de Ted

Porto Rico foi anexada como o Texas. Cuba resistiu. Acabou sob controle, com a alegação dos EUA de que tinham ajudado a guerra da independência. De 1898 em diante o Caribe virou mar territorial americano. Nascia o império colonial, que tinha ainda Filipinas e Guam, do outro lado do mundo. Festejado como herói, Ted Roosevelt elegeu-se vice do presidente William McKinley no ano seguinte, 1900.

A Emenda Teller, de 1898, negava expressamente qualquer intenção dos EUA de anexar Cuba. E em 1901 o senador Orville H. Platt, a pretexto de prevenir desejos imperiais da Alemanha sobre a ilha, redigiu a emenda à lei de verbas do Exército: proibia Cuba de assinar tratado dando poderes a outro país sobre seus negócios internos, endividar-se ou impedir ali um programa sanitário americano. E mais.

Na Emenda Platt os EUA arrogavam-se o direito de intervir nos assuntos internos de Cuba, a pretexto de "manter a ordem e a independência", podendo comprar ou arrendar áreas para instalar estações navais ou carboníferas. A principal delas era a baía de Guantánamo. No mesmo ano, Cuba foi forçada a incluir a emenda na sua Constituição e a assinar tratado assegurando o poder dos EUA sobre a área.

Obviamente os EUA - já sob Roosevelt, presidente a partir de 1901 devido ao assassinato de McKinley - deitaram e rolaram. Já em 1906 mandaram-se tropas, "a convite", para sufocar revolta e "restaurar a ordem". Enviavam navios de guerra, negavam reconhecimento de regimes, etc. Só em 1934 revogou-se afinal a Emenda Platt, graças à política da Boa Vizinhança. Mas não o arrendamento de Guantánamo.
Caloteiro e péssimo inquilino

A manutenção de Guantánamo, antes de virar prisão, já se elevava, por ano, a US$ 36 milhões. Servia para provocar Cuba, que repudia a transação ilegítima e imoral. O aluguel é o sonho de todo inquilino: fixado pelo próprio, em 90 anos (de 1903 a 1993) subiu apenas de US$ 2 mil para US$ 4.085. Nessa proporção, deve estar hoje nuns US$ 4.200, o que mal paga apartamento de dois quartos em Manhattan.

Arrogante e prepotente, o inquilino sempre impôs sua vontade como valentão de rua. Caloteiro, já que só paga o que quer, ainda controla a área e hostiliza o dono légitimo da propriedade. Cuba, ao contrário, comporta-se como o senhorio ideal: desde que Fidel Castro chegou ao poder, sequer desconta os cheques do aluguel. Teme que isso possa legitimar a indecência histórica imposta pelos EUA.

Há 16 anos, quando Bill Clinton chegou à Casa Branca, o escritor Tom Miller, autor do livro Trading With the Enemy: A Yankee Travels through Castro's Cuba, recordou no New York Times a história vergonhosa de Guantánamo - rebatizada no Pentágono, amante de sopa de letras, como Gitmo. Não se imaginava que ainda viria vergonha maior - a prisão-centro de torturas, obra de Bush II em 2001.

Antes de Fidel, a área pode ter sido a base ideal para o lazer de militares amantes de prostíbulos, cassinos e consumo de drogas - cortesia de gangsters como Meyer Lansky, à sombra dos ditadores apadrinhados em Washington. Talvez haja em Miami quem sonhe com a volta aos velhos tempos. Mas Obama, mesmo vencedor da Flórida, pode fazer a coisa certa: acabar com essa indecência de 110 anos.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

"Presidente de todos", Barack Obama faz história e toma posse nos EUA

20/01/2009 - 07h02

Fernanda Brambilla
Enviada especial do UOL Notícias
Em Washington (EUA)
Às 12h desta terça-feira (15h de Brasília), Barack Obama fará o juramento para tomar posse como o 44º presidente dos Estados Unidos, um acontecimento inédito para o país, que terá seu primeiro líder negro. Depois, acompanhado de seu vice, Joe Biden, Obama fará o trajeto do desfile do Capitólio até a Casa Branca (previsto para começar às 17h30 do Brasil).
POSSE DE OBAMA

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Dia histórico: jornais de todo o mundo dão destaque para a posse de Obama nesta terça-feira

* Protecionismo na era Obama seria ruim para o Brasil, dizem analistas
* Moradores de Washington fogem enquanto mundo vê posse de Obama
* Cooperação na área social deve ser nova frente entre Brasil e EUA
* Filhas de Obama têm festa delas
* Em seu primeiro dia, Obama deve tratar de crise e política externa
* Dick Cheney sofre distensão e vai à posse de cadeira rodas
* Dia de Martin Luther King: invasão de turistas e pechinchas
* Mulher de Biden fala à Oprah
* Financial Times: Mundo espera que Obama conserte economia
* The NY Times: Transição indica como um líder poderá governar
* Veja o desafio que Obama irá enfrentar na economia dos EUA
* Jogo: ajude Obama a chegar lá
* ESPECIAL: POSSE DE OBAMA



Estima-se que a participação do público baterá todos os recordes devido à forte identificação de americanos de diversas classes políticas com o novo presidente. Uma pesquisa divulgada pelo jornal "Washington Post" e conjunto com a rede de TV "ABC" aponta que 62% dos republicanos têm planos de acompanhar a posse, ao lado de 90% dos democratas (a pesquisa foi feita por celular com 1.079 adultos).

De acordo com outro levantamento, da rede "CNN", 6 em cada 10 republicanos alegaram que a ocasião deixou o âmbito político para se tornar uma celebração de apoiadores de Obama, mas o mesmo número entre todos os americanos, 6 em 10, acredita que o evento é "uma celebração de todos os cidadãos por verem a democracia em ação." Na posse de George W. Bush, em 2001, apenas 25% do público pensava assim.

Em seu dia de despedida, Bush almoçará com Obama antes de deixar de vez residência oficial. Ao lado da mulher Laura, Bush seguirá de helicóptero para seu rancho no Texas.

Oito anos após sofrer o pior atentado de sua história - o ataque às torres gêmeas do World Trade Center em 11/09/01 -, os norte-americanos comprovam hoje que amadureceram em questões como a discriminação racial, o medo do terrorismo e a crença no poder militar, para darem início ao que esperam ser uma nova era sob a liderança de Barack Hussein Obama.

Um político inexperiente, de 47 anos, recém-saído de seu primeiro mandato como senador. O filho de uma norte-americana do Kansas com um queniano inicialmente não parecia ser páreo para a senadora e ex-primeira-dama Hillary Clinton, favorita para a candidatura democrata.

A vitória acirrada o projetou internacionalmente, e sua campanha logo o pôs sob os holofotes na imprensa mundial. Em julho de 2008, Obama fez um discurso na Alemanha que reuniu mais de 200 mil pessoas. Com palavras de mudança, rejeitando com veemência a doutrina Bush e condenando a guerra do Iraque, Obama ganhou o mundo e os EUA, derrotando o candidato republicano herói da Guerra do Vietnã, senador John McCain, levando seu partido de volta ao poder após oito anos.

Agora, as expectativas são altas: recuperar a imagem dos Estados Unidos frente à comunidade internacional, aliviar uma crise econômica comparada à depressão de 1929 e melhorar a auto-estima de seus cidadãos.
PARTICIPE

* Obama conseguirá contornar a crise econômica?
* O que a eleição de Obama significa para a história?



"Ao ver tanta gente aqui reunida, penso que não me lembro de ter me sentido tão bem comigo mesma há muito tempo", diz a professora Jennifer Richards, de Illinois, Estado que Obama serviu como senador. "O povo americano se sente bem consigo mesmo, é uma experiência incrível."

Não à toa, as chamadas do telão para a programação da inauguração têm a música-tema de "Super-Homem". Ninguém sabe se Obama irá satisfazer os anseios do país, mas ele conta com a aprovação de cerca de 68% dos eleitores, indicou pesquisa divulgada nesta segunda pela rede "CNN".

O primeiro discurso
Em seu primeiro pronunciamento empossado, Obama falará por cerca de 20 minutos e deve enfatizar a necessidade de uma nova mentalidade para o país. O tema de sua estréia como presidente é "o renascimento da liberdade", em homenagem ao 200º aniversário de Abraham Lincoln. A inspiração também partirá de Franklin Roosevelt, que governou durante a última grande crise.
Obama aquece comércio de Washington

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Em entrevista ao jornal "Washington Post", a filha de Obama, Malia, de 10 anos, não escondeu a ansiedade pelo discurso. "Primeiro presidente negro. Melhor que seja bom", deixou escapar a menina.

A busca por uma postura mais cooperativa e voltada ao bem comum deve ditar o curso das palavras de Obama, em continuidade ao apelo de união acima de raças e crenças pregado no domingo, em show para 300 mil.

A tarefa de Obama nesta terça-feira é contentar uma multidão acostumada a seus discursos fervorosos e cheios de promessas. A mudança de tom tem como objetivo unir o ideário à responsabilidade. Na escadaria do Lincoln Memorial, Obama já alertou que "será uma longa estrada. É possível que as coisas piorem antes de melhorar.