quinta-feira, 4 de março de 2010

Para Hillary, Brasil e EUA têm expectativas diferentes em relação ao Irã


Camila Campanerut
Do UOL Notícias

Em Brasília
AFP Hillary Clinton encontra-se com Celso Amorim durante reunião no Congresso brasileiro

Atualizada às 17h42

Em entrevista coletiva concedida no Palácio do Itamaraty, em Brasília, na tarde desta quarta-feira (3), a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, afirmou que o governo brasileiro ainda acredita numa resposta positiva às tentativas de diálogo com o Irã em prol da não produção de armas nucleares.

“Eu acho que o Brasil acredita que há espaço para negociação. Nós achamos que a negociação e o esforço de boa-fé não parecem bem-recebidos pelo Irã”, defendeu a secretária.

“O que observamos é que o Irã vai para o Brasil, China e Turquia e conta histórias diferentes para evitar as sanções. Nós continuaremos a discutir essas questões”, afirmou. Hillary lembrou que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tem feito, há mais de um ano, tentativas de diálogo com o país asiático, e que, além dos 20% do urânio enriquecido, eles estariam atuando de forma velada, escondendo da comunidade internacional o real tamanho de sua produção nuclear.

Já o chanceler brasileiro, Celso Amorim, reforçou o posicionamento brasileiro de dar mais tempo ao governo de Ahmadinejad para evitar sanções. “A questão é de saber qual o melhor caminho para chegar lá ou se estão esgotadas as possibilidade de negociação. Nós acreditamos que ainda há oportunidade de se chegar a um acordo, talvez exija um pouco de flexibilidade de parte a parte”, disse o chanceler.

“Nós pensamos com a nossa própria cabeça. Nós queremos um mundo sem armas nucleares, certamente sem proliferação”, afirmou Amorim, ao lado da secretária de Estado. “Não se trata de se curvar simplesmente a uma opinião que possa não concordar [no caso do grupo liderado pelos Estados Unidos]. Nós não podemos ser simplesmente ser levados.”

Contudo, Amorim ressaltou que vale à pena o esforço para continuar a negociar, para evitar que se repita o que aconteceu com o Iraque, em 2003, quando ficou comprovado que as insinuações norte-americanas sobre a produção nuclear escondida iraquiana acabaram sendo infundadas naquele momento.


Para a secretária, apesar de os Estados Unidos se disporem a negociar com o Irã, as chances são limitadas por causa da falta de interesse do Irã. Ela avalia que o ideal seria buscar um caminho pacífico. “Nós acreditamos que um esforço em favor das negociações, de boa fé, por parte do Irã seriam bem aceitos. Temos de fazer tudo pacificamente para evitar. Vamos continuar a consultar o Brasil”, disse.

Honduras
Com relação ao país caribenho, o governo dos Estados Unidos espera do Brasil um reconhecimento de Estado democrático que o país retomou após a eleição direta que sagrou Pepe Lobo como presidente. Todavia, o chanceler brasileiro voltou a optar pela cautela antes de expressar apoio a Honduras.
Grupo de discussão

* Qual deveria ser a postura do governo brasileiro em relação ao programa nuclear iraniano?

“Nossas posições são parecidas. Evidentemente, o Brasil deseja ver um futuro de normalidade na região, mas países que, [como o Brasil] tiveram trauma de viver um golpe militar, não podemos tomar estas coisas levemente. Temos acompanhados com muita atenção os gestos do novo presidente de Honduras”, explicou Amorim.



O ministro destacou que o governo brasileiro tem apreciado o trabalho de Lobo em demitir o chefe de Estado Maior, responsável pelo sequestro do ex-presidente deposto Manuel Zelaya e que a aproximação de lideranças ligadas a Zelaya. O ministro voltou a dizer que a ação que mais sensibilizaria o Brasil a reconhecer o governo hondurenho seria a criação de condições para receber Zelaya de volta.

Venezuela
Questionada por um dos jornalistas sobre a atuação americana na Venezuela, Hillary foi categórica. “Posso apenas reiterar o que dissemos: não participamos de nenhuma missão que possa prejudicar de alguma forma a Venezuela. Nos preocupamos e consideramos prejudicial [o que vem ocorrendo]. Estão sendo minadas pouco a pouco as liberdades e isso prejudica o povo venezuelano”, defende.

A ex-senadora por Nova York e ex-primeira dama dos Estados Unidos apontou que seguir os exemplos de Chile e Brasil seria uma boa opção para o governo de Hugo Chávez.

O chanceler aproveitou a deixa para enfatizar a parceria diplomática com o país que não se curvam às políticas norte-americanas. “Concordo muito com o ponto da Venezuela olhar para o sul. Por isso convidamos a Venezuela para integrar o Mercosul , que será positivo em todos os sentidos”, disse.


Hillary Clinton fala sobre o programa nuclear do Irã durante visita ao Brasil


Atos de cooperação
Hillary Clinton disse que o Brasil é um "parceiro valioso" para os Estados Unidos. Durante a visita ao Brasil, Hillary assinou três atos de cooperação entre os dois países. Um se refere à implementação de atividades de cooperação técnicas em outros países. O segundo é um memorando de entendimento de Brasil e Estados Unidos sobre cooperação em ações relativas a mudanças climáticas. Já o terceiro documento propõe um entendimento dos dois Estados para o avanço na condição da mulher.

“(...) Ambos os governos compartilham o desejo de fortalecer a cooperação no intuito de fomentar o desenvolvimento econômico, aprimorar o atendimento médico e promover a inclusão social em países selecionados cujos principais desafios se situam na área da pobreza, conforme mensurada pelos indicadores de desenvolvimento mundiais(...)”, diz o texto do primeiro ato.

Hillary elogiou ainda o programa de segurança alimentar brasileiro e disse que, nesse quesito, os Estados Unidos são um parceiro estratégico do Brasil.

Visitas
Mais cedo ela visitou o Congresso Nacional. Hillary deixou o Congresso por volta de 9h50, depois de se reunir a portas fechadas com o presidente do Senado, José Sarney (PMBD-AP), o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e parlamentares na sala da presidência do Senado.

Segundo relato de parlamentares que participaram do encontro, ela afirmou que o Brasil pode desempenhar um papel "estratégico" no sentido de "mudar" os objetivos nucleares do governo iraniano.

“A ênfase da pauta foi o Irã e abertura do diálogo com o Brasil sobre a questão. Falou um pouco sobre a reforma na saúde, que vem ocorrendo nos EUA, porém não tocou no assunto da compra dos 36 caças”, contou o senador Heráclito Fortes (DEM-PI).

"Ela disse que o Irã não somente está desenvolvendo armas nucleares visando a Israel como também procurando manter uma hegemonia em todo o Oriente Médio", disse Sarney. “Ela pediu para que o Brasil colaborasse na política de não proliferação de armas [nucleares]. Eu tive a oportunidade de dizer que o Brasil é signatário de um tratado nesse sentido”, acrescentou Sarney.

Para Temer, a secretária de Estado saiu da reunião convicta de que o Brasil terá capacidade de ajudar os EUA a dialogar com o Irã.

* do UOL Notícias

1 Comentários:

Às 4 de março de 2010 às 13:03 , Blogger Unknown disse...

A bença, dona Hilária

Dentre as estultices proferidas por ocasião da visita de Hillary Clinton, a mais saborosa é a de que o Irã “teve sua chance” de aceitar a agenda estadunidense. Tá, tá, sei. E daí? Vão fazer o quê? Bombardear Teerã? Abrir uma terceira frente de batalha, além das duas já mergulhadas em caos e impopularidade? Invadir uma potência militar quase vizinha à Rússia e à China? Francamente...
Haveria algum incentivo financeiro ou material para esse americanismo jeca da imprensa nacional? Ou os analistas são mesmo tristemente pacóvios? Existem pessoas educadas e bem remuneradas que acreditam sinceramente na necessidade da tutela dos EUA sobre o planeta? O único país que já utilizou armamento nuclear contra civis? O protagonista das maiores invasões bélicas em andamento? O exército responsável pelo maior índice isolado de mortandade dos últimos cinqüenta anos?
A secretária de Estado teve sorte de não ouvir “go comb monkeys” ou “go look for me in the corner (with a yellow umbrella)” ou, enfim, deixa pra lá.

 

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