sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Obama conta o que seu pai fez com homem que o chamou de "macaco"; leia trecho

da Folha Online

Barack Obama, que toma posse hoje como o 44º presidente dos Estados Unidos, mal conviveu com seu pai queniano. Quando Obama ainda era criança, o casamento de seus pais terminou, seu pai retornou à África, e sua mãe, a americana Ann Dunham, casou-se com o indonésio Lolo Soetoro, que tornou-se padrasto do jovem menino.

Mesmo distante de seu pai biológico, Obama cresceu ouvindo histórias sobre ele contadas por sua mãe e seus avós. Obama conta uma delas no livro "A Origem dos Meus Sonhos" (Editora Gente), autobiografia na qual revela a sua história, a história de sua família e a forma como encara o mundo.

A narrativa começa com o pai de Obama sendo chamado de "macaco" por um americano branco em um bar do Havaí. Saiba como o pai de Obama reagiu lendo o trecho abaixo do livro "A Origem dos Meus Sonhos".

*

Que meu pai não se parecia nada com as pessoas em torno de mim -- que ele era negro como piche, e minha mãe, branca como leite -- mal foi registrado por minha mente. Na verdade, só me recordo de uma história que se referia explicitamente ao assunto de raça; à medida que eu crescia, ela se repetiria mais frequentemente, como se tivesse capturado a essência de moralidade que a vida de meu pai havia se tornado.

Divulgação

De acordo com a história, após longas horas de estudo, meu pai foi se encontrar com meu avô e vários outros amigos em um bar de Waikiki. Todos estavam alegres, comendo e bebendo ao som de uma guitarra típica havaiana, quando repentinamente um homem branco disse ao garçom, bem alto para todo mundo ouvir, que não se deveria tomar uma boa bebida "perto de um macaco". Houve um momento de silêncio, e as pessoas se voltaram para olhar meu pai, esperando uma briga.

Em vez disso, ele se levantou, caminhou em direção ao homem, sorriu e começou a discursar sobre o absurdo do fanatismo e da intolerância, a promessa do sonho americano e os direitos universais do homem. "Esse sujeito se sentiu tão mal quando Barack terminou", disse vovô, "que ele tirou 100 dólares do bolso e deu a Barack na mesma hora. Pagou todas as nossas bebidas e puu-puus [espécie de tira-gosto típico da cozinha havaiana] pelo resto da noite - e também o aluguel do seu pai pelo resto do mês".

Quando entrei na adolescência, passei a duvidar da veracidade dessa história e a deixei de lado com todo o resto. Até que, muitos anos depois, recebi um telefonema de um nipo-americano que dizia ter sido colega de faculdade de meu pai no Havaí e que, agora, dava aulas em uma universidade no Meio-Oeste dos Estados Unidos.

Ele foi muito educado, embora estivesse um pouco envergonhado por sua impulsividade. Explicou que havia lido uma entrevista comigo em um jornal local e que a menção ao nome de meu pai havia lhe trazido de volta muitas recordações. Então, durante o curso de nossa conversa, ele repetiu a mesma história que meu avô havia me contado, a história de um homem branco que havia tentado comprar o perdão de meu pai. "Nunca me esquecerei disso", disse-me o homem ao telefone; e na sua voz ouvi o mesmo tom que eu tinha ouvido do meu avô tantos anos antes, aquele tom de descrença -- e de esperança.

"A Origem dos Meus Sonhos"
Autoras: Barack Obama
Editora: Editora Gente
Páginas: 452

1 Comentários:

Às 29 de outubro de 2009 às 05:01 , Blogger Blog do Paim disse...

Luiz Carlos Nogueira diz: vejam o trecho do livro que não aparece no artigo:

Que meu pai não se parecia nada com as pessoas em torno de mim -- que ele era negro como piche, e minha mãe, branca como leite -- mal foi registrado por minha mente. Na verdade, só me recordo de uma história que se referia explicitamente ao assunto de raça; à medida que eu crescia, ela se repetiria mais frequentemente, como se tivesse capturado a essência de moralidade que a vida de meu pai havia se tornado.

Divulgação



De acordo com a história, após longas horas de estudo, meu pai foi se encontrar com meu avô e vários outros amigos em um bar de Waikiki. Todos estavam alegres, comendo e bebendo ao som de uma guitarra típica havaiana, quando repentinamente um homem branco disse ao garçom, bem alto para todo mundo ouvir, que não se deveria tomar uma boa bebida "perto de um macaco". Houve um momento de silêncio, e as pessoas se voltaram para olhar meu pai, esperando uma briga.

Em vez disso, ele se levantou, caminhou em direção ao homem, sorriu e começou a discursar sobre o absurdo do fanatismo e da intolerância, a promessa do sonho americano e os direitos universais do homem. "Esse sujeito se sentiu tão mal quando Barack terminou", disse vovô, "que ele tirou 100 dólares do bolso e deu a Barack na mesma hora. Pagou todas as nossas bebidas e puu-puus [espécie de tira-gosto típico da cozinha havaiana] pelo resto da noite - e também o aluguel do seu pai pelo resto do mês".

Quando entrei na adolescência, passei a duvidar da veracidade dessa história e a deixei de lado com todo o resto. Até que, muitos anos depois, recebi um telefonema de um nipo-americano que dizia ter sido colega de faculdade de meu pai no Havaí e que, agora, dava aulas em uma universidade no Meio-Oeste dos Estados Unidos.

Ele foi muito educado, embora estivesse um pouco envergonhado por sua impulsividade. Explicou que havia lido uma entrevista comigo em um jornal local e que a menção ao nome de meu pai havia lhe trazido de volta muitas recordações. Então, durante o curso de nossa conversa, ele repetiu a mesma história que meu avô havia me contado, a história de um homem branco que havia tentado comprar o perdão de meu pai. "Nunca me esquecerei disso", disse-me o homem ao telefone; e na sua voz ouvi o mesmo tom que eu tinha ouvido do meu avô tantos anos antes, aquele tom de descrença -- e de esperança.

 

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