segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

EUA pediram ajuda para conter Bolívia


CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
Wikileaks Preocupado com a segurança de sua embaixada em La Paz, o governo dos EUA pediu ajuda ao Itamaraty e a Marco Aurélio Garcia, assessor internacional do Planalto, para moderar a posição da Bolívia.
Na época, junho de 2008, Garcia prometeu ajudar, e também recomendou aos americanos que deixassem clara uma posição de neutralidade na disputa entre o presidente Evo Morales e a oposição boliviana.

Conversa de Garcia com embaixador incluiu Cuba e Venezuela

O resultado das gestões, no entanto, foi aparentemente limitado ao caso da embaixada: em setembro do mesmo ano, Morales expulsou o embaixador americano, Philip Goldberg, acusado de conspirar com os governadores oposicionistas, considerados separatistas.
O pedido foi feito a Garcia no dia 25 de junho de 2008 e está relatado num telegrama "reservado" obtido pelo site WikiLeaks. O texto foi enviado dois dias depois pelo então embaixador em Brasília, Clifford Sobel, aos superiores em Washington.
Naquele ano, a Bolívia viveu queda de braço entre Morales e a oposição, que tentava impedir a realização de referendo para a ratificação da nova Carta do país, redigida por uma Assembleia Constituinte de maioria governista.
Em junho, a embaixada americana em La Paz foi cercada por milhares de manifestantes pró-Morales.
Eles protestavam contra a presença nos EUA do ex-ministro da Defesa Carlos Sánchez Berzain, acusado de "genocídio" na chamada "guerra do gás" (2003), quando ao menos 60 civis foram mortos.
Segundo o relato de Sobel, na conversa Garcia fez críticas tanto ao governo boliviano quanto à oposição.
Disse que Morales interpretou sua eleição, em 2005, como "uma revolução" e que não diferenciava entre opositores linha-dura e "direitistas modernos". A oposição, do seu lado, estava controlada pelos elementos "duros".
O assessor do Planalto, relata o embaixador, previu longo período de instabilidade na Bolívia, mas que a oposição não conseguiria derrubar Morales ilegalmente.
ANEDOTA
Quando Garcia sugeriu um "pacto de não agressão" entre EUA e Bolívia, Sobel respondeu que a segurança da embaixada americana em La Paz não poderia ser objeto de barganha.
O assessor concordou, diz o embaixador, mas advertiu que os EUA não deveriam "subestimar o antiamericanismo em alguns círculos". Contou então a velha piada que pergunta por que nunca houve um golpe nos EUA. "Porque eles não têm uma embaixada americana lá."
Segundo Sobel, no mesmo dia Garcia teve um encontro com o embaixador da Bolívia em Brasília e transmitiu as preocupações dos americanos. Também prometeu levar a questão a Lula e à cúpula do governo Morales.
O telegrama mostra que os EUA também haviam contatado o então subsecretário do Itamaraty para a América do Sul, Ênio Cordeiro, e o embaixador em Washington, Antonio Patriota, sobre o cerco à embaixada em La Paz.
Também confirma que a Bolívia há tempos era objeto de conversas entre o governo Lula e Thomas Shannon, na época secretário assistente de Estado para Assuntos Hemisféricos e hoje embaixador em Brasília.
Garcia teria dito a Shannon que o Brasil não se habilitava a ser mediador formal entre os dois países, mas que podia ajudar.

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