quinta-feira, 17 de julho de 2008

Maior colônia brasileira, no exterior, está nos Estados Unidos

Brasília - Há mais de 20 anos, muitos brasileiros deixaram o país e partiram para os Estados Unidos em busca de melhores condições de vida, fugindo da crise pela qual o Brasil passava, durante a chamada “década perdida (1980)” e o início dos anos 90. De acordo com estimativas do Ministério das Relações Exteriores, cerca de 1,2 milhão de brasileiros moram nos Estados Unidos atualmente. Os números representam a maior colônia brasileira no exterior.

A presidente do Centro Josué de Castro, de estudos socioeconêmicos, professora aposentada da Universidade de Campinas (Unicamp) e pesquisadora bolsista no David Rochefeller Center for Latin American Studies, em Harvard (EUA) em 2000, Teresa Sales, destaca que a busca dessas pessoas era basicamente por melhores salários.

“As pessoas, em geral, em termos de status social, baixavam de status, eram professores, bancários, pessoas de uma classe média e que lá iam trabalhar no setor de serviços de baixa qualificação, como lavadores de prato, faxineiras.”

De lá para cá, ela destaca a estabilização da economia brasileira e a crise iniciada nos Estados Unidos, junto com a desvalorização do dólar frente ao real, como as principais mudanças. No entanto, mesmo com esses episódios – que chegaram a diminuir as remessas de brasileiros dos Estados Unidos – a professora afirma que não se pode, ainda, dizer que há um retorno significativo dessas pessoas.

Ao contrário, de acordo com ela, a perspectiva agora é a estabilização do fluxo migratório, com a formação de uma segunda geração, os filhos dos imigrantes. “Essa migração foi para ficar, não tem situação boa no nosso país que traga de retorno, trará alguns, mas não a totalidade dos que foram”.

“Os brasileiros que chegaram ainda criança, ou que nasceram lá – sobretudo estes, porque já nascem com a cidadania americana – e que estudam na escola americana, vão ter um domínio do idioma sem sotaque, o que não acontece com a primeira geração, e já vão ser cidadãos americanos, então isso muda inteiramente o quadro”, explica a pesquisadora.

Segundo ela, os que voltam são os que se especializaram no setor financeiro e já vêem no Brasil uma oportunidade concreta de bons salários. “Hoje em dia há grandes perspectivas no mercado brasileiro, com a abertura da economia, abertura das empresas na bolsa de valores, toda essa mudança considerável dos padrões da economia”, lembra Teresa.

Outras mudanças também foram constatadas pela professora nos últimos 20 anos. Ela destaca, por exemplo, a maior organização da comunidade. Se no início os brasileiros se vincularam mais a igrejas, hoje têm participação em várias associações. “Hoje em dia as lideranças da comunidade brasileira têm um contato forte com outras comunidades, sobretudo os hispânicos, os latinos que moram nos Estados Unidos. O que é muito importante, comparando ao estágio inicial”, analisa.

Apesar disso, uma característica continua presente: o fato de a maior parte dos brasileiros ainda estar irregular, sem a completa documentação de migração. Isso faz com que a principal demanda desses brasileiros seja exatamente a busca pela regularização da situação no exterior.

Para conhecer um pouco mais quem são os brasileiros que vivem em outros países e as necessidades dessas pessoas, o Ministério das Relações Exteriores organizou a 1ª Conferência sobre as Comunidades Brasileiras no Exterior. Com o slogan “Brasileiros no Mundo”, o encontro ocorre hoje (17), no Rio de Janeiro, e tem o apoio da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag).

Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil

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