terça-feira, 1 de julho de 2008

Lula quer explicações dos EUA sobre Quarta Frota

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira que quer explicações dos Estados Unidos sobre a Quarta Frota da marinha americana, que reapareceu nas águas da América Latina quase 60 anos após ter sido desativada.

"Pedi ao ministro (das Relações Exteriores) Celso Amorim que pedisse à secretária de Estado americana (Condoleezza Rice) informações sobre os objetivos desta Quarta Frota", disse Lula, em entrevista coletiva no encerramento da 35ª Reunião de Cúpula do Mercosul, na cidade argentina de San Miguel de Tucumán.

A Quarta Frota da marinha dos Estados Unidos, criada em 1943 diante da ameaça nazista, havia sido desativada em 1950. A partir desta terça-feira, a unidade voltou a realizar operações nos mares da América Latina.

"Nós agora descobrimos petróleo em toda a costa marítima brasileira, a 300 quilômetros da nossa costa, e nós, obviamente, queremos que os Estados Unidos nos expliquem qual é a lógica desta Quarta Frota", afirmou Lula.

"Nós vivemos numa região totalmente pacífica", disse o presidente, ao afirmar que a única guerra na região é contra a pobreza e a fome.

"Se fosse frota de navios de alimentos, de navios de sementes, seria até razoável. Mas eu penso que isso o ministro Celso Amorim haverá de ter uma resposta da Condoleezza", disse.

Críticas

A reativação da Quarta Frota provocou críticas de líderes latino-americanos, como o cubano Fidel Castro e o presidente da Bolívia, Evo Morales.

Lula falou sobre o tema ao ser questionado sobre declarações feitas durante a reunião de cúpula pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que condenou essa presença da marinha americana na região.

Alguns analistas afirmam que o objetivo da medida seria controlar países da região com governos considerados "incômodos" por Washington, especialmente a Venezuela.

Porta-vozes militares americanos afirmam que a reativação da Quarta Frota não significa uma mudança de estratégia do país.

Segundo os Estados Unidos, trata-se de um ajuste operacional sem intenções agressivas, para melhorar a capacidade operativa no combate ao narcotráfico, manejo de desastres naturais e trabalhos de cooperação.

Pré-sal

Na entrevista ao final da reunião, o presidente Lula disse também que o Brasil vai começar a tirar os primeiros barris de petróleo da camada pré-sal no Estado do Espírito Santa em setembro.

"Em setembro deste ano vamos começar a fazer exploração experimental no Espírito Santo, numa área que foi descoberta recentemente pela Petrobras", afirmou Lula.

"E também vamos começar a fazer exploração experimental, com 20 mil barris, em Tupi, em março do ano que vem", disse.

Segundo o presidente, energia e alimentos foram os principais assuntos tratados nas reuniões bilaterais que teve nesta terca-feira com Chávez e com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner.

"O Brasil tem um potencial energético razoável e ainda não temos o petróleo da Venezuela, mas já encontramos a quantidade suficiente para nos dar tranqüilidade", disse Lula.

Argentina

Quando questionado sobre o pedido de Cristina Kirchner para que o Brasil envie maior quantidade de energia ao mercado argentino e com valor mais baixo que o atual, Lula disse que o país vai ajudar a Argentina a enfrentar sua crise energética.

"Não vamos deixar que o povo argentino sofra por conta do frio, por conta de falta de energia", disse o presidente, ao afirmar que o Brasil pode exportar energia elétrica.

Outro tema debatido entre Lula e a presidente argentina foi a Rodada de Doha de liberalização do comercio mundial. Uma reunião técnica dos dois países foi marcada para o dia 14.

"Eu disse que a Rodada de Doha é muito importante, mas que só faremos algo como Mercosul", disse Lula.
Hoje, a Argentina é definida como mais "cautelosa" que o Brasil nas discussões sobre o tema.

Inflação

Na entrevista, de cerca de 30 minutos, Lula falou ainda sobre a alta da inflação no Brasil.

"Tenho preocupação com a inflação acho que desde que comecei a trabalhar no meu primeiro emprego, em 1959. Eu sei o quanto a inflação prejudica os trabalhadores que vivem de salário. A inflação prejudica os mais pobres", disse.

"Temos total condições de controlar a inflação", afirmou o presidente.

"Não brincaremos com a inflação. Vivi, como dirigente sindical, inflação de 80% e 40% e posso garantir que isso não vai voltar a acontecer no Brasil", disse Lula.

MÁRCIA CARMO
da BBC Brasil, em San Miguel de Tucumán (Argentina)

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