Por que os EUA guardam 700 milhões de barris de petróleo em cavernas
- Há 3 horas
Atualmente existem várias outras reservas espalhadas pelo mundo, de vários outros países.
E, para os que se perguntam por que são investidos bilhões de dólares para voltar a enterrar petróleo bruto, a resposta remete à crise do petróleo de 1973.
Os exportadores de petróleo árabes tinham cortado o fornecimento para os países ocidentais como castigo pelo apoio dos EUA a Israel durante a guerra de Yom Kippur.
Esse conflito, também conhecido como a guerra árabe-israelense de 1973, foi liderado por uma coalizão de países árabes encabeçada por Egito e Síria contra Israel, entre 6 a 25 de outubro de 1973.
Naquela época o mundo era tão dependente do petróleo do Oriente Médio que os preços dispararam.
Com isso, veio o racionamento nos postos de gasolina e a histeria que levou algumas pessoas a proteger seus carros com armas de fogo.
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Poucos anos depois, os EUA começaram a construir a SPR, a rede de cavernas subterrâneas cheias de petróleo. Graças a essas reservas, mesmo sem o fornecimento do Oriente Médio, os EUA poderiam enfrentar a alta do preço e a pressão dos mercados globais.
Em sua página na web, o governo americano afirma que "o tamanho formidável da SPR se transforma em um importante fator dissuasivo diante dos cortes na importação de petróleo e é uma ferramenta-chave de política externa".
E o orçamento deste ano para a manutenção da reserva estratégica é de US$ 200 milhões.
'Cúpulas de sal'
Bob Corbin, do Departamento de Energia dos EUA, é a pessoa encarregada pelo gerenciamento desse dinheiro."Todos nossos pontos (onde é guardado petróleo) estão situados no que chamamos de cúpulas de sal. O sal é impermeável ao petróleo cru. As duas substâncias não se misturam e também não há rachaduras, por isso é um armazém perfeito", disse.
Corbin, que serviu como militar na Guarda Costeira durante 22 anos, tem orgulho dos quatro armazéns nos quais estão distribuídas as cavernas.
Eles se estendem desde Baton Rouge, no Estado americano da Louisianna, até Freeport, no Texas, onde fica o maior dos quatro.
A construção é impressionante, mas não pode ser apreciada da superfície, de onde são visíveis apenas alguns poços e tubos.
Segundo Corbin, as cavernas de sal não são totalmente estáveis, e às vezes alguns pedaços pequenos se desprendem das paredes, causando danos às máquinas.
Os funcionários não conseguem chegar a esses locais, então a única maneira de substituir máquinas danificadas é remotamente.
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"Periodicamente, as cavernas são esvaziadas e é possível fazer imagens por sonar do interior. Isto te dá uma ideia tridimensional (do espaço)", disse Corbin.
Política externa
A página do governo na web já diz: a SPR é um recurso de apoio aos EUA em sua política externa.Foi usada na primeira Guerra do Golfo (2 de agosto de 1990 a 28 de fevereiro de 1991), conflito entre o Iraque e a coalizão liderada pelos Estados Unidos em resposta à invasão iraquiana do Kuait. Durante o conflito, o fornecimento de petróleo foi interrompido.
Também foi necessária quando o furacão Katrina devastou Nova Orleans, em 2005.
Mas o EUA não são o único país a investir muito na criação de reservas estratégicas de petróleo.
O Japão, por exemplo, tem reservas equivalentes a 500 milhões de barris, em tanques enormes que ficam na superfície.
A infraestrutura de Shibushi, no sudoeste do país, está na costa e, depois do terremoto e tsunami de 2011, o país analisou a possibilidade de ampliar as reservas. A Agência Internacional de Energia (IEA na sigla em inglês) gerencia a emissão de petróleo a partir destas reservas.
"Quando um país se une à IEA, adota várias obrigações. Uma delas é que deve manter reservas de petróleo em uma quantidade equivalente a importações feitas durante 90 dias", disse Martin Young, diretor da Divisão de Políticas de Emergência do organismo.
Nem todos os países contam com instalações gigantescas para estocar petróleo.
A Grã-Bretanha, por exemplo, precisa fazer com que as empresas petroleiras tenham mais petróleo do que teriam normalmente para que o governo possa usá-lo de forma imediata, afirmou Young.
China e Índia
Dos países que não são parte da IEA, Índia e China são dois exemplos que destinaram fundos para suas reservas estratégicas nos últimos anos.O governo chinês tem planos ambiciosos, com previsão de uma grande variedade de locais de armazenamento e infraestrutura estatal e comercial.
A China não tem cavernas de sal e, por isso, precisa usar uma forma muito mais cara: armazenar na superfície.
É fácil identificar estes depósitos com o Google Earth e em fotos de satélites: eles formam fileiras e mais fileiras de pontos brancos.
Em Zhenhai, sudeste do país, hoje é armazenada uma quantidade de petróleo equivalente a 33 milhões de barris.
Narongpand Lisapahanya, analista de petróleo e gás do grupo de investimentos CLSA, afirmou que investir na construção dessas reservas estratégicas é parte do plano da China para ser tratada como uma superpotência no cenário internacional.
Então, se "em uma situação de crise outra potência pede que se libere mais petróleo, a China também poderia participar".
Manipulação
Se por um lado aceita-se que nenhuma superpotência hoje está completa sem uma destas reservas, ao mesmo tempo há o temor de que os países que não pertencem à IEA poderiam usar suas reservas para manipular os preços globais do petróleo."Quando foi criada em 1975, o propósito da SPR era proteger a economia americana dos fortes aumentos de preço dos produtos domésticos derivados do petróleo", disse Carmine Difiglio, do Departamento de Energia americano.
No entanto, Difiglio afirma que isso é diferente de usar essas reservas com o objetivo de manipular os mercados internacionais.
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Martin Young também afirma que as "reservas de petróleo não existem para a gestão de preços", apenas para serem usadas em casos de escassez.
Mas também há um debate sobre como essas reservas devem ser aproveitadas. Alguns especialistas acreditam que elas deveriam ser liberadas para o mercado de forma mais agressiva.
"Alguns só enxergam esses 700 milhões (de barris de petróleo) como um monte de dinheiro", disse Sarah Ladislaw, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington.
Segundo a especialista, são poucos que apoiam iniciativas para mudar o uso das reservas de emergência nos EUA ou em qualquer outro lugar.
Mas Ladislaw insiste que a ênfase deveria ser no planejamento para emergências e mitigação de problemas de fornecimento.
Gerenciamento
Nenhuma superpotência está completa hoje sem sua reserva, a ponto de terem até empresas que as ajudam no gerenciamento.Uma dessas companhias, a EnSys, desenvolveu um programa de computador para simular futuras flutuações de preços da indústria petroleira.
E, com isso, pode aconselhar organismos que controlam as reservas de emergência quando e por que deveriam analisar a possibilidade de distribuir petróleo para refinarias locais.
E o diretor-executivo da EnSys, Martin Tallet, afirma que eles são objetivos.
"Começamos a falar de números diretamente em vez de perder tempo tentando entender em profundidade as maquinações geopolíticas que poderiam ter causado uma interrupção de abastecimento", disse.
Enquanto os governos e organismos de energia continuam se preparando para o pior, as reservas de petróleo bruto continuarão aumentando.
Mas, apesar de toda a preparação, ainda é possível que, durante uma crise de abastecimento, o petróleo não seja distribuído com rapidez suficiente. E surge a pergunta: poderia acontecer de novo uma crise como a de 1973?
"Não queremos especular sobre o que pode ou não acontecer. Estamos preparados para distribuir (petróleo) sempre que precisarmos", disse Corbin.
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